sexta-feira, abril 03, 2009

Filmes do exílio #6

Sempre que é preciso um pouco de humanidade e conforto na vida, pode-se apelar para John Cassavetes. Não porque ele tenha feito filmes fáceis ou de autoajuda, mas porque construiu uma obra cheia de grandes pérolas sobre gente, em seus altos e baixos, na alegria e na tristeza. Nenhum diretor foi tão generoso quanto Cassavetes, e o resultado só pode ser um: acaba o filme e não nos sentimos mais sozinhos.



Moskowitz & Minnie

As obras dele são tão fortes que se alojam na mente como se fossem pessoas queridas, e não longas em celuloide - ideia brilhantemente defendida por Inácio Araújo numa dessas tripinhas que escreve na Folha ao falar sobre o lindo último filme do mestre, que retornava a cartaz na tv a cabo: "Por onde andava Amantes?". Inácio reclamava a presença do filme-amigo, claro.

Semana passada vi pela primeira vez Minnie & Moskowitz, uma coisa linda e arrasadora e real sobre como as pessoas devem mesmo é ficar junto de quem amam, mesmo que isso não seja fácil.

>>> O Cangaceiro, de Lima Barreto, é um bom filme, talvez apenas prejudicado pelo incensamento promovido por Moniz Vianna, que o considerava o maior longa brasileiro da história, em detrimento da obra radical de Glauber nos anos 60. O filme de Barreto é certinho, muito bem feito, e dribla qualquer lembrança daquele remake com Paulo Gorgulho e Luiza Tomé... O filme tem azeite, tempo, métrica, é um mérito técnico, nota dez de escola de samba. Isso não faz uma obra-prima.

>>> Nos fórums do IMDB um cara abriu um tópico na página de Nouvelle Vague, de Godard: "Alguém me explica esse filme?". Young American... É Godard, cara, não é pra entender, e sim para admirar o efeito. Parece papo de "arte conceitual", mas a graça de Godard é se perder nesse labirinto discursivo com cara de ficção, mas que, no fundo - já disseram alguns críticos - são documentários sobre o estado de alma do diretor. Godard é um dos poucos cineastas que conseguem transformar um brainstorm sobre tudo em algo interessante, mesmo que desconexo. Ele teria o melhor twitter de todos os tempos.



Delon, e o braço torcido de Godard

O engraçado de Nouvelle Vague é a presença de Alain Delon. Acho que foi Gabi que escreveu isso, mas ele era bonito demais para a nouvelle vague, o movimento. No filme de 1990, foi Godard que teve de dar o braço a torcer, já que Delon, mesmo 30 anos depois, não perdeu a presença e o poder de sedução que mascaravam o fato de que ele era excelente ator. O filme é uma chatice divertida.

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