sexta-feira, junho 23, 2006

Manoel vai pro inferno?

Já estão no ar as vinhetas de Páginas da Vida, nova novela de Manoel Carlos. Só ele pra me fazer assistir novela das oito: a última que tive estômago para assistir, e com todos os problemas, foi Mulheres Apaixonadas. Antes, Laços de Família, o melhor esforço do horário desde A Indomada. Isso acontece pela incrível sucessão de lixo produzida pelos nada inspirados Silvio de Abreu, Aguinaldo Silva, Gilberto Braga e até Benedito Ruy Barbosa.
Este último é de longe o melhor autor de novelas, o cara que fez Renascer e O Rei do Gado, mas nada produz de inédito - tanto Sinhá Moça quanto Cabocla são adaptações que as filhas dele fizeram de textos antigos, já filmados. Mad Maria, uma porcaria, havia sido escrita há vinte anos, e Esperança... Bem, Benedito estava tão doente que teve de abandonar o barco, mas tenho a solitária impressão de que, pelo que vi, Esperança foi uma novela subestimada. Luiz Fernando Carvalho, o diretor, fez experimentações ousadas, havia uma elaboração técnica de verdade (esqueça Jayme Monjadim, farsante). E apesar do sotaque de Ana Paula Arosio, o último capítulo começava de maneira incrível. Arosio nua, câmera a mostrando lateralmente, se levantava da cama onda havia se deitado com Reynaldo Gianechinni, um off cinematográfico inesperado explicava a separação.

Manoel Carlos

Mas voltando a Manoel Carlos e a Páginas da Vida: as impressões não são muito animadoras. É evidente a interferência da mão pesada de Monjardim na paleta do cores, em alguns ângulos, a música parece ficar mais alta. Manoel Carlos, que funcionava muito bem com Ricardo Waddington com o tom leve cotidiano, tudo muito azul e branco, bossa nova muito bem usada, agora corre o risco de ver sua novela transformada num melodramão cheio de lirismo de botequim, pseudo-artístico.
Regina Duarte também já não parece uma boa escolha pro papel habitual de Helena. Perfeita em História de Amor, a campanha do "eu tô com medo" desgastou sua imagem, ainda mais com a provável vitória de Lula no primeiro turno.
Bom, se não funcionar, o jeito é abandonar de vez a ficção televisiva, ao menos até Luiz Fernando Carvalho dirigir alguma coisa, ou quem sabe Carlos Lombardi entregar outra obra-prima revolucionária no horário das sete, como Kubanacan. Enquanto isso, tv só pra jornal e esporte.

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