Não entendo a
reclamação pelos close-ups extremos usados por Tom Hooper nos
números musicais de Os Miseráveis. Acho que são completamente
justificados, e não apenas eficazes no todo, mas muito fortes nos
grandes números do espetáculo. Os Miseráveis é daqueles musicais
gigantescos na voz mas contido nos movimentos, sem cenas de dança,
todo composto a partir de baladas, então as canções só ganham
força se os atores mostrarem expressividade, e chegar a câmera bem
perto foi uma ótima ideia.
Além disso, os closes
realmente não me parecem excessivos. Hooper tem essa mania de fazer
planos contraintuitivos (aka tortos), mas eles funcionam aqui,
especialmente porque às vezes ele alterna entre três ou mais
ângulos de close. Há uma dinâmica bem jogada com os altos e baixos
da música, um andamento bem pareado entre câmera e canção. Quando
ele abre a imagem, também funciona, especialmente nos movimentos, na
correria. Ele traz o musical pro nível do chão, da testemunha,
mesmo quando a gente olha e diz “que plano feio”. É feio, mas é
funcional.
Claro que a opção
pelo elenco cantar ao vivo e essa emoção num nível sempre alto (um
problema da música, sobretudo) banalizam os grandes momentos, e às
vezes esvaziam o sentimento por falta de contraste, tornam este
sentimento apenas uma referência apenas musical, e não
dramatúrgica. No entanto, para cada número ruim de Russell Crowe
(muito mal escalado), o filme tem na manga momentos arrebatadores de
melodrama pra te trazer de volta. Afinal, que raio de filme tem três
showstoppers tão incríveis como I Dreamed a Dream, On My Own e
Empty Chairs and Empty Tables?
Esses momentos não
seriam tâo fortes, claro, não fosse o elenco. Anne Hathaway vai
ganhar merecidamente o seu Oscar, mas pena que Samantha Barks e Eddie
Redmayne (que surpresa, excelente cantor) tenham sido eclipsados.
Eles desfibrilam o coração do filme toda vez que ele ameaça parar,
afogado em tanto chororô. De repente tudo soa autêntico novamente,
forte, emocional de verdade e não por tabela. É um bom filme, e
nessa escala Oscar é bem melhor que embustes autorais como Amour,
produtos vulgares de prestígio como Argo ou, horror dos horrores,
comédias nulas como O Lado Bom da Vida. Aliás, eu diria mesmo que a
primeira meia hora é espetacular.
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