Três filmes depois já
dá pra perceber, mas quando Paul Thomas Anderson fez chover sapos,
ele estava esgotando uma vertente de criatividade e partindo com
todas as forças na direção contrária. Nos seus primeiros filmes
ele explorava o que havia em comum entre um grupo imenso de
personagens, desenhando com todas as forças de texto e imagem uma
lógica para unir essas pessoas: a fraternidade, em Boogie Nights;
Deus, na falta de palavra melhor, em Magnólia.
Seus três filmes
seguintes são retratos de indivíduos sem qualquer chão, apoio ou
muleta de sustentação, perdidos no mundo. Em Embriagado de Amor há
ainda uma redenção via amor romântico, mas depois disso, nada. The
Master, agora, parece ser o cume de um caos absoluto, trazendo essa
falta de chão pro nível do próprio cinema, e não apenas na
trajetória dos seus personagens. Faz tempo que não via um filme
americano tão desconjuntado, desarticulado, desprovido de causas e
efeitos, sem centro, sem estrutura.
O que temos, em resumo,
é uma vida pontuada em alguns trechos, como se PTA abandonasse o
personagem toda vez que consegue iluminar algum aspecto de sua
personalidade, mesmo que as situações nas quais ele esteja
envolvido não se tenham resolvido. Não é um filme escravo do
roteiro, ou mesmo das pessoas, mas do que interessa ao diretor
observar nestas pessoas, o que ele faz sem muito rigor, livre para
abortar suas tentativas quando elas não vão muito adiante.
Qualquer tentativa de
desenhar um plot a partir desse filme é inútil. Os fragmentos não
se colam, não há um quebra-cabeça a montar, um twist lancinante no
fim para nos fazer reconsiderar tudo. A cada elipse, a cada
anticlímax, o diretor acentua a mudança de seus próprios
interesses como cineasta, de alguém que parecia querer o controle de
tudo via texto para um autor muito mais entusiasmado com a
experimentação e com as possibilidades de aproximar essa
experimentação do seu atual ponto de vista sobre a vida, instável,
insegura.
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